17.4.12

À conversa com... Rafael Freitas



Rafael Freitas tem 30 anos e é designer na empresa Rafael Freitas – Atelier. Com apenas 10 anos de carreira profissional, este designer já é conhecido fora de Portugal, onde o seu trabalho é reconhecido e elogiado. O processo de afirmação de Rafael Freitas é um exemplo de que em Portugal é possível vencer na área sem pertencer “ao circulo limitado da moda portuguesa”.



Como começou a sua formação e carreira profissional?

Estava um bocado indeciso sobre o que havia de escolher, uma vez que toda a minha família está ligada ao mundo da construção civil. Perante isto e como sempre gostei de moda, no final do meu 9ºano comecei a procurar escolas onde poderia fazer um curso profissional. Assim, surgiu a oportunidade de ir estudar para a CENATEX de Guimarães, que na altura em que me formei não era uma escola conhecida.  Quando completei os três anos do curso surgiu a oportunidade de ir trabalhar e estagiar na Companhia de Noivas da Foz, que era na altura considerado um dos melhores ateliês de Portugal. Foi um golpe de sorte! Depois comecei a trabalhar por conta própria, com uma equipa pequena de apenas um colaborador. À medida que o tempo ia passando, o ateliê também ia crescendo e quando me apercebi já estava a fazer desfiles em Guimarães, no Dubai, em Angola, entre outros. Além disso, surgiu este ano a oportunidade de alargar o mercado até ao Brasil.

Continuou a fazer formação depois do seu curso?

Sim, claro. Depois de sair da Companhia de Noivas da Foz continuei a fazer formações em várias cidades, como Barcelona por exemplo. As formações que tirei, na altura, vocacionavam-se mais para a moda do teatro, apesar de não trabalhar nessa área neste momento. Como é óbvio a formação nesta área é constante, uma vez que um designer tem de estar a par das actualizações de novos materiais e novas tecnologias.

Que dificuldades encontrou ao longo destes anos de carreira?

Numa área como a moda as dificuldades são sempre muitas, principalmente quando se trata de algo em que os apoios são escassos e os que existem já estão vocacionados para alguém. Assim, este ateliê não fugiu à regra e passou um bocadinho por essas dificuldades, apesar de isso ter feito com que este projecto andasse para à frente. Já aconteceu ter de adiar um projecto por falta de financiamento ou mudar as colecções por serem extremamente caras, pelo que tivemos de readaptá-las de forma a conseguir a mesma coisa mas com menos dinheiro.

Um designer tem de ser, por isso, versátil…

Sim, sem dúvida. As pessoas que trabalham como designers conseguem sempre contornar tudo, têm que ter essa versatilidade e agilidade. Qualquer dificuldade que apareça no caminho nunca se vai em frente, mas sim à volta.



De onde surge a sua inspiração?

Não é uma inspiração contínua, depende do estado de espírito e do meio envolvente. Não existe sempre uma inspiração mas sim várias situações diárias que criam várias inspirações. A dança é um tema que está sempre presente nas minhas coleções por já praticar dança há vários anos – desde valsa,  danças vienesas, tudo que aquilo que seja clássico. Os objetos mais irrisórios podem levar a uma inspiração. Muitas vezes até nos erros de uma linha surgem ideias para outras. Pode ser o pormenor chave para a próxima coleção.

Que tipo de peças prefere criar?

Peças de coleção. Adoro o show off e quando ele é muito forte temos ainda muito mais prazer porque não existe um limite ao nível do custo da peça.  A relação entre o designer e o cliente, principalmente com um que procura um vestido de noiva, é muito próxima, uma vez que o cliente acredita no bom gosto do designer. E, sem dúvida, as reacções que criamos naquela pessoa são sentimentos que não conseguimos criar quando estamos a desenvolver uma coleção , uma vez que conseguimos ter a parte humana muito mais presente. Tenho imenso prazer em ambas as áreas, mas são diferentes.

Só desenvolve vestuário?

Além de desenvolver toda a parte do vestuário, temos também acessórios. Daqui a uns tempos vamos lançar uma linha de sapatos a nível mundial. Temos ainda a linha de joalharia em conjunto com o Eugénio Campos que é mais destinada a noivas. A parceria surgiu há cerca de 3 anos e foi pioneira em Portugal, uma vez que juntou um pioneiro para noivas e um joalheiro.

Qual é o público-alvo das suas criações?

A verdade é que foi mudando ao longos destes 10 anos. Quando comecei a trabalhar o meu primeiro público-alvo era uma classe média-baixa. Hoje em dia trabalho para uma classe média-alta e alta. A média está a desaparecer uma vez que temos de seleccionar bem o mercado. Não adianta estar a fazer peças acessíveis e peças extremamente caras. Ou se trabalha com um público ou com outro, porque o mesmo público não gosta de misturas. O público-alvo do ateliê abrange os mercados de Portugal, de Angola, do Dubai e, daqui a uns meses, do Brasil. A faixa etária varia entre os 15 e os 50 anos, bem como algumas crianças (vestidos de comunhão).

Como é o processo criativo para outros mercados?

Por exemplo, o mercado africano mudou muito. Hoje em dia a ideia de que a África consumia os restos da Europa desapareceu. Não consome os restos, mas sim aquilo que nem a Europa consome: o luxo extremo. As mulheres lá querem tudo o que seja extremamente luxuoso e exótico, bem como com muita qualidade.

É difícil entrar sem muita experiência e com um nome menos reconhecido para esse tipo de mercado?

É necessário criarmos as nossas próprias oportunidades. Não fui eu que decidi trabalhar com Angola, mas foi Angola que decidiu trabalhar comigo. Tive a sorte de ter duas angolanas que vieram ao meu ateliê, aqui em Guimarães, e que adoraram as minhas criações. Quando voltaram para Angola os meus vestidos fizeram um sucesso. Daí surgiu logo oportunidade de ir como convidado para o Angola Fashion, o que me abriu uma porta no país. Contudo, existe uma particularidade lá: não podemos falhar com nenhuma delas. Se falhamos com uma, falhamos com o país inteiro e vimos embora, ou seja, é um risco enorme mas que é necessário correr, uma vez que compensa a nível financeiro e de reconhecimento no exterior.

O mercado português é uma boa aposta para esta área?

Infelizmente não. Quando decidimos lançar a linha de calçado, por exemplo, enviamos o projeto para São João da Madeira, contudo recusaram o projeto por ser um conceito totalmente novo. É um conceito que mexe com a vaidade da mulher, consegue transformá-la naquilo que ela quiser. Mesmo assim decidi que não ia desistir do projecto e enviei o projecto para Itália onde foi aceite.
Para além disso, estou a representar Portugal por Espanha, em Angola, e quando cheguei a Angola vi lá todos os representantes portugueses. Isto realmente só faz sentido em Portugal. Isto leva-me a concluir que o mercado português está limitado por um pequeno número de pessoas.

Mas o seu caso é um exemplo de que não é preciso instituições ou títulos para vingar na área...

Como já disse, deixei de acreditar no nosso país. Infelizmente, porque sempre defendi tudo que era made in portugal durante 8 anos. Contudo, os mínimos que as fábricas oferecem para os ateliês não são viáveis. Hoje em dia trabalho com 2% de Portugal porque as fábricas não estão disponíveis para trabalhar por valores aceitáveis e os tempos de entrega são muito longas. O próprio mercado não se está a adaptar.

Quais são as previsões futuras para o ateliê?

Para o futuro temos a linha de calçado que é uma excentricidade do ateliê e temos Portugal para conquistar. Existe a loja de Lisboa, que é uma estratégia de marketing para resolver a lacuna que é o mercado português, mas continuo a achar que Portugal tem um público muito complicado. Espero estar enganado!




Texto: Patrícia Magalhães
Fotografia: Luís Soeiro

1 comentário:

  1. NOVA MORADA:

    Agora o atelier situa-se em:

    Rua da Pisca nº 207
    Creixomil
    Guimarães

    email: rafafreitas.atelier@gmail.com

    Telef. 96 421 35 33

    Obrigado
    Rafael Freitas

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